terça-feira, 16 de junho de 2009

DO RIO DE JANEIRO A SALVADOR

21/8/07
Rio de Janeiro - Salvador
A nova tripulação, constituída de Silvio Almeida, Marco de Jesus e Rui Ketzer, chegou às 10 h. O Silvio trouxe a pá do eólico, acidentada em Ilha Bela. Foram ao supermercado enquanto eu colocava a pá do eólico.
Zarpamos ao meio dia. Saímos com um sudoeste fraco com muitas ondas e aviso de ressaca. O vento continuava fraco e prosseguimos com vela e motor para fazer o Cabo de São Tomé. Neste primeiro dia passamos a frutas e sanduíche e um ou outro Dramin para o Rui e o Marco, para adaptação da nova tripulação a bordo, pois o mar estava muito mexido.
22/8/07
Passamos o São Toméàs 12 h. Saiu a primeira picanha ao forno com creme de leite e salsichão, iniciando a nossa dieta da proteína. O vento continua sudoeste fraco. Às 20h passamos ao través de Vitória do Espírito Santo. Consultamos a previsão do tempo no computador, via Vivo Zap, navegando a cinco milhas da costa. A previsão era de sudoeste fraco. À noite, lanche. Nós fazíamos os turnos em 2 h, dois a dois. O radar no través de Vitória parecia estar com catapora, tamanha era a quantidade de navios chegando e esperando para aportar.
23/8/07
De manhã, o vento continuava fraco, às vezes apertando e permitindo velejar sem motor. Logo cedo começamos a avistar as primeiras baleias. “Temos que aproveitar este vento fraco, de sudeste, mais favorável, para chegarmos a Abrolhos.” O Rui pegou um atum pequeno de aproximadamente um quilo. Meio dia, e o atum já estava no forno, temperado com orégano e limão entre uma onda e outra, acompanhado de batatas e salada de tomate com cebola refogada. Sensacional! O vento aumentou somente durante a noite, quando navegamos apenas com vela. Tivemos que afrouxar o pano para travar o barco, pois queríamos chegar ao amanhecer em Abrolhos.
24/8/07
Chegamos a Abrolhos às 7 h num dia de sol. Do Rio de Janeiro até Abrolhos foram 442,8 milhas navegadas. Fundeamos, tomamos um café, e com muita conversa e papo, admiramos a paisagem especial. Mais tarde, informamos através do rádio os dados da embarcação e do capitão para o Rádio Farol Abrolhos e Ibama Abrolhos: - “Ibama Abrolhos, é Entre Pólos, na escuta, vamos ao canal 12.” - “Entre Pólos vocês estiveram aqui há dois anos. Sejam bem-vindos, eu sou o Mauricio que atendeu vocês na última vez que estiveram aqui. Não preciso nem lembrar que é proibido a caça e a pesca. No mais, sejam bem-vindos e aproveitem a estadia.” Saímos para mergulhar na ponta oeste da Ilha Santa Helena, no canal com Ilha Siriba. Muitos peixes, água limpa, temperatura de 29 graus, muitos corais e tartarugas. Baleias a distância a todo o momento. Duas horas de mergulho e voltamos para o barco. Saiu o primeiro churrasco em Abrolhos, tiras de costelas uruguaias, salsichão e entrecote. Saiu a primeira cervejada a bordo observando as baleias saltando e jorrando seus borrifos de água. À tarde fomos de bote fotografar o pôr-do-sol das Ilhas Santa Helena, Siriba e Redonda. À noite, um café, revemos o DVD da primeira viagem do Entre Pólos na costa brasileira e fomos dormir cedo.
25/8/07
Amanheceu mais um dia de sol em Abrolhos. Após um reforçado café, saímos de bote para rodear as ilhas. Paramos no lado sul da ilha Siriba para mais um mergulho. Tudo fantástico. Ao meio dia voltamos à nossa dieta de proteína, churrasco de entrecote, salsichão e cerveja. À tarde, sessão de fotos entre as Ilhas e do por-do-sol. À noite, papo no cockpit. Marcamos a saída para as 6 hs do dia seguinte.
26/8/07
Acordamos às 5:30hs, café e preparativos. Saímos às 6 hs entre as Ilhas Santa Helena e Siriba (foto ao lado) numa pequena passagem repleta de pedras e corais. Marinheiros atentos na proa alertando para as pedras à frente. Saída muito tensa. Saímos em um contra vento de 12 nós, motor novamente. No caminho mais baleias em todos os lados. Algumas a menos de 50 metros do barco. Meio dia, pizza. À noite somente pequenos lanches e frutas.
27/8/07
Sem parar, mais um dia de sol e contravento. Poucas baleias à vista. Meio dia, novamente pizza. Às 15 hs fundeamos em Ilhéus. Eu e o Rui fomos levar o lixo na avenida via bote. Desembarque horrível devido a rebentação. Tomamos um banho e quase viramos o bote no embarque. Fomos todos ao clube tomar banho e saímos para caminhar ao centro de Ilhéus, pois estávamos a sete dias sem pisar em terra, mas não sete dias sem banho. Em Abrolhos só podíamos desembarcar acompanhados de fiscais do IBAMA, o que não foi do nosso interesse.Jantamos no restaurante Vesúvio, camarão à Nacib, Dourado com legumes e arroz. Umas delícias. Sorvete no caminho de volta ao porto. Caminhada na ida e na volta.
Ao chegar ao clube uma surpresa para os gaúchos: a maré tinha descido 2 metros. Em Porto Alegre não existe maré e no RS, aos 31 graus Sul, ela é fraca. Por sabedoria intuitiva, tinha ancorado aos 4,9 metros de profundidade, na maré alta. Com a maré baixa a profundidade chegou a 2,7 metros. Era lua cheia, o que gera a chamada “maré de lua”, mais forte que as demais. Fomos dormir após o tradicional papo no cockpit.
Cidade simpática. O clube recepcionou-nos muito bem, o restaurante é ótimo e o visual é esplêndido. Porém não tem píer adequado para veleiros, inseguro mesmo para botes. E precisa cuidado com a ancoragem, pois a variação da maré é muito grande e é desprotegido para o vento de nordeste, o mais comum na região.De Abrolhos a Ilhéus, 201 milhas em 33 hs.
28/8/07
Amanheceu em Ilhéus, Sol forte. Eu e o Rui fomos abastecer o barco. 420 litros de água e 100 litros de diesel. Em Ilhéus não tem trapiche, o barco balança de través. A água precisa ser pegada de galão num deck flutuante do clube e o diesel encomenda-se e vem ate o deck flutuante. Enquanto isto, o Silvio e o Marco foram ao supermercado repor o rancho.A sede do clube é muito boa, bons banheiros e ótimo restaurante. Nas duas vezes que estive em Ilhéus fui muito bem recebido. Ao meio dia almoço, banho e às 14 hs rumamos para Camamu. O Vento rondou leste sudeste a 10 nós passando mais tarde para 15 nós, o que proporcionou uma bela velejada até Camamu .
29/8/07
Chegada a Camamu a 1 hora da madrugada. Fomos dormir depois de 65 milhas navegadas. Amanheceu em Camamu. Maré de lua vazando, mais de 2 metros de variação. A correnteza é muito forte, ultrapassando os 2 nós. Após o café saímos de bote para as ilhas Goió e Sapinho, distantes +- ½ milha. Caminhamos entre as casas na ilha Sapinho. Muito simples, mas muito organizado, com papagaios, cachorros e gatos junto com o povo. O tempo está um pouco fechado, cai uma chuva rápida, mas a temperatura continua agradável. Caminhamos ao longo da margem da ilha Sapinho, pela areia e pelo lodo do mangue, observando o ambiente exposto pela maré baixa. Na volta enfrentamos problema com a variação da maré, que encheu. Um pequeno córrego que passamos com um passo na ida tinha 70 cm de profundidade na volta, e trouxe preocupações com as máquinas fotográficas. No momento de embarcar no bote caiu um Pirajá e decidimos tomar uma cerveja e comer uns petiscos em um bar na margem do braço de mar que separa a Ilha Sapinho da Ilha Goió, onde tínhamos amarrado o bote. Muito bem servidos, uma cerveja Bohemia super gelada e ½ kg de agulhas bem fritas, acompanhadas de uma ótima farofa caseira, servidos com muita habilidade pela atenciosa dona do bar.
Voltamos ao Entre Pólos, almoçamos um churrasco pelas 17 hs e conversamos até dormir cedo, pois a partida seria na madrugada do dia seguinte.
30/8/07
Apagando o Isqueiro do badejo
Acordamos às 3:30, levantamos âncora e rumamos para o Morro de São Paulo. Saída da barra com correnteza de maré contra. Passamos a 1,5 milha de 1 plataforma de petróleo próxima à barra de Camamu. Depois passamos por mais 2 plataformas, situadas mais afastadas da costa e por vários pesqueiros muito pequenos, sofrendo muito com o vento sudeste de 15-19 nós. Chegamos a Morro de São Paulo às 11 hs em uma bela navegada de vento de ¾ com vento sudeste de 15-19 nós. Novamente fundeamos com forte correnteza, descemos o bote e fomos para terra. Caminhamos por toda a cidadezinha, que é um espetáculo à parte. Os táxis são carrinhos de mão para o transporte de malas dos turistas e outros tipos de carga. Mulas são usadas para o transporte de cargas mais pesadas. Não existem automóveis, pois a topografia do local e a idade da cidade não permitem. Fomos caminhar pelas Primeira Praia, Segunda Praia e Terceira Praia. Muitas lojas, pousadas, restaurantes. É um local sem igual, para voltar sempre.
No retorno paramos para tomar cerveja acompanhada por um badejo frito, servido pelo simpático garçom Cláudio, que nos informa que o badejo é o peixe mais procurado, sendo pescados exemplares de até 250 kg. Eu disse que no Araçá pesquei um badejo de 100 kg que, ao limpar, tinha um isqueiro aceso no estômago. Cláudio pergunta, desconfiado:
- Isqueiro aceso?
Respondi:
- Tira uns quilos do teu badejo que eu apago o isqueiro. Isto gerou muitas gargalhadas.
Retornamos ao Entre Pólos ao fim da tarde, fazendo um almoço-janta dentro da dieta das proteínas.
No começo da noite estávamos no interior do Entre Pólos digitando o diário de bordo quando ouvimos vozes tensas, muito próximas. Sílvio, que estava na gaiúta de popa, saiu e encontrou um pesqueiro de porte semelhante ao Entre Pólos quase em colisão, com a galhada do arrastão tocando o bordo de bombordo. Empurrra o pesqueiro, que tinha ancorado mal a montante da forte correnteza de maré e garrado lentamente para cima do Entre Pólos. O pesqueiro vai lentamente para a popa do barco e a âncora finalmente unha, debaixo de nós. Muita confusão, com o pesqueiro tentando livrar a âncora e oscilando a poucos metros da nossa popa. Tentou afastar-se soltando mais amarra, o que só firmou a âncora. Depois de muita tensão o pesqueiro finalmente faz a manobra correta: recolheu a amarra até ficar próximo à nossa popa e deu marcha a ré, arrastando a âncora até conseguir recolhe-la.
De Camamu ao Morro de São Paulo foram 42 milhas.
31/8/07
Acordamos em horário normal e zarpamos às 10:30h. Saída sem vento, mas ao abandonarmos a proteção do morro entra um vento de sudeste, começando em 12 nós e crescendo até 25 nós, variando desde ¾ até orça apertada. No começo temos ondas altas, pois estamos em água rasa, de 9 m e as ondas vem de águas profundas, de 1000m. As ondas alcançam 2,5m e a navegada é bastante desconfortável, apesar do belo visual.
Logo que entramos em águas mais profundas, de 30 m, as ondas arredondam e a navegada fica mais fácil. Passamos por vários navios e pelo catamarã motorizado que liga Salvador ao Morro de São Paulo.
A chegada a Salvador é impressionante, pois a cidade tem uma bela vista para quem entra na Baía de Todos os Santos. Passamos por uma pequena flotilha de Laser, chegando ao Centro Náutico da Bahia às 15 hs. Após as providências de atracação devoramos 2 pizzas e subimos para o Pelourinho pelo Elevador Lacerda, para comer um bom soverte na sorveteria situada na saída superior do elevador. Depois demos uma volta pelo Pelourinho, que está muito arrumado e limpo, transmitindo uma sensação de segurança que não sinto em Porto Alegre.
Foram 36 milhas do Morro de São Paulo até Salvador.
De Porto Alegre a Salvador o odômetro do plotter marca 1807 milhas de belas navegadas.Bons ventos a todos e até o próximo diário.

2 comentários:

  1. Parabéns "Grande" Comandante Gigante... Acredito que o blog é o caminho, esta iniciativa vai permitir que os "nautas" de plantão na blogosfera fiquem mais próximos do Entre Pólos e participem de suas aventuras quase em tempo real.

    Grande Abraço e sempre Bons Ventos.

    Fernando Maciel
    www.veleiroplanetaagua.blogspot.com

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  2. Entre pólos um magnifico veleiro com um gigante abordo. Abraços do seu amigo Celso.

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