terça-feira, 22 de dezembro de 2009

GIBRALTAR A CANÁRIAS (Em Solitário)

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A viagem de Gibraltar a Lisboa, de ônibus, para levar a Cleuza ao Aeroporto foi muito cansativa, principalmente à volta, já que eu estava só. Demorou mais tempo por ser domingo. Os ônibus param o tempo todo. Se tiver uma pessoa para ir a uma pequena cidade, ele entra e deixa a pessoa lá. São três conduções a pegar. Atravessa-se a fronteira de Gibraltar a pé para a cidade espanhola de La Linea, pega-se o ônibus para Algeciras, 45 minutos, caminha-se até um terminal dentro do porto e toma-se um ônibus para Sevilha, 2:30 horas. Lá se pega outro para Lisboa, mais sete horas. Tem banheiro nos ônibus, mas fica trancado e ninguém pode usar. É um horror (mas é primeiro mundo) .
Saí de Gibraltar às 10 Horas, rumo as Canárias, ilha de Graciosa, vela grande rizada na segunda forra, sem vento por nove milhas. Depois, vento na cara de 17nós e, às vezes, com três nós de corrente contra, como esperado na previsão. Eu sabia que não era o melhor vento para sair, mas se não saísse dia primeiro de setembro, a julgar pelas previsões, seria pior, ficando todo o tempo no contra-vento. Estava por vir uma baixa pressão para o dia seguinte naquela região, e só poderia sair (conforme as previsões) na outra semana. Passei pelo través do Farol de Tarifa já com o vento diminuindo, chegando mais tarde a zerar. No final da tarde o vento deu uma rondada e deu pra orçar, às vezes com motor, por ser fraco. De madrugada melhorou, vindo para través, de 17 a 20 nós. Muitos navios nos dois sentidos e aquela névoa já conhecida. Quando menos se espera aparece do nada uma embarcação miúda, talvez de pesca, mas não se sabe. Os sustos foram grandes, pelos relatos de pirataria e imigrantes que atravessam o estreito à noite. Tenho mais uma cueca para a campanha do agasalho, tamanho o cagaço. Apesar de tudo, dormi bem em turnos de 20 em 20 minutos. Às onze horas da manhã mudei o rumo em 30º (233º) e tirei o rizo. E vamos velejando a ¾ de popa, com vento entre 14 nós. Nas primeiras 24 horas fiz 156 milhas. Para almoçar fiz um carreteiro que durou para dois almoços. Dias com sol e temperaturas agradáveis. De noite um frio que há muito não sentia. Dia 3/9 à 01:30h da madrugada baixei mais 20 graus. Agora tinha Canárias pela proa no rumo 219º, vento de 8 nós, e o japa de plantão, ajudando. Fechando mais 24 horas, e mais 155 milhas navegadas. Agora está nublado, faz tempo que não via o céu fechado. À tarde abriu o tempo, o vento melhorou e vamos nós em asa de pombo, com tudo em cima. Vento N, de 14 nós. À noite fechou o tempo e o vento apertou. Às 8 da noite, antes de escurecer, rizei a grande na segunda forra só pra garantir e não ter que ir à noite na proa. Mesmo com vento, de noite tenho que ligar o motor a cada hora, pois as baterias não estão segurando a carga, e com tudo ligado não dá. De dia não há problema, pois os painéis solares dão conta. Eu queria chegar até o Brasil e só então trocar as baterias, mas não vai ser possível continuar assim. Nas Canárias vou substituir. O vento parou. A noite está escura e encoberta. Muitos navios, mas ficou só nisso. Amanheceu com sol. Nessas 24 horas fiz 146 milhas. Ontem fiz uma carne no forno com bacon, arroz e salada. Hoje fiz um carreteiro com a sobra da carne e do arroz, e uma nova salada. Toda esta navegada está acontecendo conforme a previsão. Recebi as previsões, via Navtex, das áreas mais ao norte, e realmente o bicho ta pegando na latitude de 35º. O vento lá é de força 7 a 8, e nas Canárias seria de 3 a 4 segundo a previsão Navtex, mas não passou de 2 a 3, quando não zerava.Última noite pra chegar à Ilha Graciosa. Estou meio tenso com a chegada. Começo a me preocupar com redes, barcos fundeados, enfim tudo de ruim em uma chegada a um porto estranho. Consegui fazer 168 milhas nas últimas 24 horas até Graciosa, sempre com vento fraco, às vezes ajudando com motor. De noite, sempre motor. Cheguei a Graciosa às 10 horas da manhã (Abaixo Vídeo)
e chamei amarina pelo rádio. Ninguém. Fui até o posto de combustível e ninguém para ajudar a atracar. A maré estava baixa e encostei atrás da barca de travessia para as outras ilhas. Tive que pedir para eles pegarem meus cabos, explicando que estava só. Com pouca força de vontade, me ajudaram a atracar. Em seguida saíram para o trabalho. E eu fiquei sem poder sair, pois o paredão com a maré baixa era muito alto. Esperei até as 11 horas, e ninguém à vista. Então passaram algumas pessoas e perguntei a que horas abriria o posto. Às 11, reponderam.- Mas já são 11.- No señor, todavia son las 10. Nem tinha me dado conta da diferença de fuso. Baixei uma hora. Às 11:15h chegou a moça da gasolineira. Abasteci um pouco de diesel, bati umas fotos e resolvi continuar para Gran Canária, a mais 120 milhas. Graciosa é um lugar lindo, diferente. Todas as casas são brancas. É tudo igual. Vulcões extintos, ruas sem calçamento, tudo simples, com tanta simplicidade que atrai qualquer amante da natureza. Um lugar inigualável. Mas pra curtir este paraíso só, pra mim não dava. Quem sabe um dia eu volto. Aleixo Belov saiu pra dar uma volta ao mundo. Vai dar a quarta. Que beleza. Quem sabe um dia eu possa repetir esta viagem! Até talvez comemorando meus 60 anos. Esta foi para os 50, eh eh. Assim ganho mais dois dias pra chegar ao Brasil. Com motor e pouco vento, segui viagem. À tarde começou a melhorar. Vento de 10 nós, ¾ de popa, maravilha, Nesta velocidade chego ao clarear do dia. Pena que de noite tive que manter o motor ligado para ter energia. À noite não dormi muito. Apenas três turnos de 20 minutos, pois o movimento de navios era grande, também tive medo de acordar em cima dos molhes do porto. O tripulante número Dois, o Zoinho (radar), amanheceu rouco de tanto apitar ao ver os navios. O número Um, Toni Tornado (o piloto automático) timoneava incansavelmente, com uma sutileza que parecia estar dirigindo na BR-3. Freqüentemente recebia no Furuno notícias do tempo e outras, como o aviso da regata Canárias-Madeira. Cheguei às 8 horas no trapiche de espera da Marina de Las Palmas em Gran Canária, uma enorme cidade, a 125 milhas de Graciosa. No total, 750 milhas de Gibraltar, em 115 horas. O atendimento na marina é de primeira. O preço é a metade das outras. A marina é enorme, cheia de bares e restaurantes e de lojas náutica. Tem de tudo, e com melhores preços do que no continente europeu. Fui a um grande Carrefour, dentro de um enorme centro comercial. Fiz algumas compras para a viagem, mas não comprei cerveja,
pois ainda tenho duas caixas de Skol que truxe do Brasil. Estão me fazendo companhia, e acho que não vou bebê-las, pois aí perco a companhia. A carne aqui é a metade do preço que em Benalmádena. O diesel fica 10 centavos menos que em Ceuta, e 60 centavos de euro a menos que em Barcelona. Segunda feira é feriado aqui, para meu desespero. Cheguei sábado e ainda tenho um feriado na segunda. Perguntei para o funcionário da marina por que era feriado.- Es dia de Madona.- Pô, até pra cantora americana vocês fazem feriado?- No señor, es la padroera de la ciudad. O cara achou que eu estava falando sério. Saí atrás das baterias e pesquisei preço, mas só vai dar pra fechar na terça-feira. À noite fui a um bar na marina, único lugar com internet, mas muito barulhento. Desisti do skype, e fui falar com a patroa no orelhão. Fui dormir aquilo que seria minha primeira noite de sono direto, inteirinho pra mim, depois de cinco dias. Apaguei, apesar da choradeira das crianças do barco francês em frente, só acordando de manhã pelos mesmos choros. Fui a faina, da troca de filtros do motor, revisões de tudo e faxina. Ao meio dia esquento a maravilhosa massa com carne que sobrou de ontem. Estava sentado no cockpit escrevendo este diário quando veio a francesa do barco vizinho falar comigo. Disse que foram dormir preocupados comigo, pois dormi com a gaiuta de entrada do barco aberta. Disseram-me pra trancar sempre o barco, pois aqui na marina tem roubo a barcos estrangeiros. Me disse que na semana passada entraram no barco dos amigos deles e levaram os dois computadores, e os eletrônicos do barco com maior valor. Valeu a dica, mas acabou o meu sossego. Segunda feira, feriado, saí de bicicleta pra conhecer a cidade, grande e bonita, limpa e organizada. Sei quando a cidade é grande pela dor nas pernas de tanto pedalar. Bati fotos, voltei pra marina, dei uma geral no barco, deixei o convés brilhando. Amanhã vou comprar as baterias e deixar tudo pronto para dia 10 rumar a Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo.
É isso. Até Cabo Verde. E depois? Ah depois!...Depois é proa pra FERNANDO DE NORONHA, meu paraíso particular. Tchau.
Gigante
Veleiro Entre Pólos

Pra descontrair:

Cheguei a Graciosa depois de aportar no cais da gasolineira, e quase houve uma tragédia. Tão temido por alguns tripulantes, o iceberg do Atlântico Norte estava bem na minha popa, em rota de colisão. Quando me preparo para abandonar o barco, ele pára quase se encostando à popa. Ufa! Acho que só veio abastecer.

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